terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Crônica - A aliança

A aliança
Luis Fernando Veríssimo

Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro.
Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.
— Você não sabe o que me aconteceu!
— O quê?
— Uma coisa incrível.
— O quê?
— Contando ninguém acredita.
— Conta!
— Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?
— Não.
— Olhe.
E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.

— O que aconteceu?
E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.
— Que coisa - diria a mulher, calmamente.
— Não é difícil de acreditar?
— Não. É perfeitamente possível.
— Pois é. Eu...
— SEU CRETINO!
— Meu bem...
— Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu se i o que aconteceu co m essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.
— Mas, meu bem...
— Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!
E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:
— Que fim levou a sua aliança? E ele disse:
— Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.
Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.
— O mais importante é que você não mentiu pra mim.
E foi tratar do jantar.

VERÍSSIMO, Luis Fernando. As mentiras que os homens contam. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2000. p. 37.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Exercícios - Adjunto Adnominal & Predicativo










1) Destaque do primeiro quadrinho os ADJUNTOS ADNOMINAIS e diga a que substantivos eles se referem.

2) “...tá afim de ganhar uma maldição antiga”. As três palavras destacadas pertencem, RESPECTIVAMENTE, às seguintes classes gramaticais:

a) artigo – adjetivo – substantivo.
b) adjunto adnominal – substantivo – adjunto adnominal.
c) artigo – substantivo – adjetivo.
d) artigo – substantivo – adjunto adnominal

3) Leia os trechos a seguir e compare-os:

I. “Marinheiro triste
Que voltas para bordo
Que pensamentos são
Esses que te ocupam?”
(Manuel Bandeira.Antologia Poética. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986.)

II. “Marinheiro que voltas
Triste para bordo
Que pensamentos são
Esses que te ocupam?"

Analisando o uso do adjetivo TRISTE, explique a diferença sintática deste vocábulo nos dois fragmentos.


4) Considere as seguintes frases:

a) Aquele velho homem solitário passeia pela cidade.
b) Aquele velho homem passeia pela cidade solitário.

Em qual delas pode-se afirmar que o homem está sozinho enquanto caminha pela cidade? Explique sua resposta.

Gabarito:
1) Adj. adn. "O" - refere-se ao substantivo arqueologista / "uma", "fina" e "de sedimento" - referem-se ao substantivo camada.

2) (C).

3) Em I, o adjetivo "triste" é adjunto adnominal, pois ele acompanha o núcleo de uma função sintática ("Marinheiro triste" exerce função sintática de sujeito da oração e seu núcleo é o vocábulo marinheiro). Em II, o adjetivo "triste" é predicativo do sujeito, pois ele se refere a uma função sintática sem pertencer a ela ("Marineiro" exerce função sintática de sujeito).

4) Na frase (b), pois o adjetivo solitário, usado como predicativo do sujeito, determina uma característica momentânea.